Parábola do rico e Lázaro
Parábola
do rico e Lázaro
A Parábola trata: das provas da riqueza e da
pobreza; do apego, do desapego e da utilização dos bens materiais; das
consequências do egoísmo e do orgulho; dos benefícios da resignação, da
caridade e da humildade; do mundo Espiritual; e da vida futura, como
consequência justa e equitativa da nossa existência na Terra. Grande ensino:
fora da caridade não há salvação.
Do Evangelho de Lucas:
“Havia
um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os
dias se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro,
coberto de chagas, que estava deitado ao seu portão, desejoso de fartar-se com
as migalhas que caíam da mesa do rico, mas ninguém lhes dava; e os cães vinham
lamber-lhe as úlceras. Morreu o mendigo, e foi levado pelos anjos para o seio
de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado. No Hades, estando em
tormento, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e a Lázaro no seu seio. E clamou: pai Abraão, tem compaixão de mim! E
manda a Lázaro que molhe a ponta do seu dedo, e me refresque a língua, porque
estou atormentado nesta chama! Mas
Abraão respondeu: filho, lembra-te de que recebeste os teus bens na tua vida e
Lázaro do mesmo modo os males; agora, porém, ele está consolado, e tu em
tormentos.
Demais, entre nós e vós está firmado um
grande abismo, de modo que os que querem passar daqui para vós não podem, nem
os de lá passar para nós. Ele replicou:
pai, eu te rogo, então, que os mandes à casa de meu pai (pois tenho cinco
irmãos) para os avisar a fim de não suceder virem eles também para este lugar
de tormento! Mas Abraão disse: eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.
Respondeu ele: não, pai Abraão, mas se alguém for ter com eles dentre os
mortos, hão de se arrepender. Replicou-lhe Abraão: se não ouvem a Moisés e aos
profetas tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os
mortos.” (Lucas, 16: 19-31)
As parábolas de Jesus trazem inúmeros ensinamentos
para a nossa vida, mas as interpretações podem ser diferentes conforme a
crença, a fé e a religião seguida.
Aqui, vamos discorrer o tema segundo os entendimentos
e esclarecimentos da Doutrina Espírita, mesmo porque muito dos aspectos
apresentados na Parábola dizem respeito a dois mundos: o material, ou físico
corpóreo, e o espiritual. Ainda mais, sua mensagem é direcionada a quem
acredita na vida futura, na vida que nunca acaba, porquanto crê na imortalidade
do Espírito.
De maneira geral, na Parábola vemos
representados dois extremos: opulência e miséria. Ricos e pobres são Espíritos
em provação. A indigência é uma prova dura. A riqueza é uma prova perigosa.
A parábola analisa algumas questões
fundamentais relativas à riqueza: utilidade, emprego e provas; desigualdades
socioeconômicas; apego aos bens materiais. Proclama a importância da prática da
caridade e revela as consequências do egoísmo, do orgulho e da humildade, assim
como do desprendimento das coisas materiais.
A utilidade e benefício providencial da
riqueza é o controle da pobreza, não um obstáculo à melhoria de quem a possui.
É um instrumento de progresso espiritual como tantos outros disponibilizados
por Deus.
O emprego correto da riqueza impulsiona
o progresso através dos trabalhos desenvolvidos pelos homens. O homem tem por
missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo,
saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão
comporta.
Nesse sentido, importante destacar a
crença na vida futura. Sem a vida futura, nenhuma razão de ser teria a maior
parte dos seus preceitos morais.
Essa crença tem sido o eixo do ensino do
Cristo, sendo o objetivo de todos os homens, porquanto somente ele justifica as
anomalias da vida terrena e se mostra de acordo com a Justiça de Deus.
“Com
o Espiritismo, a vida futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipótese;
torna-se uma realidade material, que os fatos demonstram, porquanto são
testemunhas oculares os que a descrevem nas suas fases todas e em todas as suas
peripécias, e de tal sorte que, além de impossibilitarem qualquer dúvida a esse
propósito, facultam à mais vulgar inteligência a possibilidade de imaginá-la
sob seu verdadeiro aspecto, como toda gente imagina um país cuja pormenorizada
descrição leia. Ora, a descrição da vida futura é tão circunstanciadamente
feita, são tão racionais as condições, ditosas ou infortunadas, da existência
dos que lá se encontram, quais eles próprios pintam, que cada um, aqui, a seu
mau grado, reconhece e declara a si mesmo que não pode ser de outra forma,
porquanto, assim sendo, patente fica a verdadeira Justiça de Deus.” (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Capítulo II, A vida futura)
Outro aspecto a destacar dessa Parábola é
que cada ser irá para a morada que construiu na Terra, aquela que corresponde à
sua evolução espiritual.
“As
diferentes moradas são os mundos que circulam no Espaço infinito e oferecem,
aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos
mesmos Espíritos. (...)
“Conforme
se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, variarão
ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações
que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da
esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o Espaço e os mundos;
enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam
de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito; finalmente,
enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem
consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o
guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama,
frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas
moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.” (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Capítulo III, Diferentes estados da alma na erraticidade)
“Estão
próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande
fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e
esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos
do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto
quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre
vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamento. Em breve,
quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras Leis de Deus, já não
haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados
serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.” (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Capítulo XI, item 14)
Assim, passamos a compreender como
devemos construir a nossa futura morada no mundo espiritual, a vida
além-túmulo, como consequência de nossas obras, pelo que fizemos ou deixamos de
fazer na Terra, diante da justiça divina.
Identificamos que o rico e o pobre personificam
a Humanidade, sempre rebelde aos ditames da Luz e da Verdade.
Os dois personagens da Parábola
representam aqueles que desfrutam dos bens terrenos, sem o trabalho edificante na
prática do bem, e sofrem no Espaço, e os que sofrem no mundo, suportam as
provações e expiações, e gozam das benesses do Espaço.
O rico é símbolo daqueles que tratam da
vida do corpo e esquecem-se da vida da alma, buscam bens materiais, são
egoístas, orgulhosos, vaidosos, soberbos e que somente procuram a sede de prazeres,
a luxúria, que mata os sentimentos afetivos e anula os dotes de coração.
No mundo espiritual, os tesouros são
outros.
Os Lázaros representam os excluídos da
sociedade terrena, os que sofrem com resignação, que desprezam os bens da
Terra, porque buscam as coisas de Deus; que se veem usurpado daquilo que por
direito lhe pertence no mundo, mas, paciente e resignado, não se revolta,
porque crê no futuro e espera as dádivas que lhe está reservada por Deus.
Pelo que fizeram na Terra, trocam as
suas condições e mudam de cenário: o mendigo vai para a abundância e o rico
passa a mendigar.
A evolução espiritual passa pelo uso
correto do livre arbítrio, das boas escolhas no caminho do bem, da verdade e da
vida.
“Porque
o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a
cada um segundo as suas obras”.
(Mateus 16: 27)
A cada um a sua morada, conforme os seus
méritos, as suas obras e o estágio evolutivo.
“Há
muitas moradas na casa de Nosso Pai’ - assevera-nos o Senhor nas bênçãos da Boa
Nova.
Entretanto
viverás naquela que houveres erguido para ti mesmo, segundo o ensinamento do
próprio Mestre, que manda conferir a cada um de acordo com as próprias
obras.
Repara,
pois, como te situas no campo do mundo, compreendendo que o teu sentimento é a
força a impelir-te para os círculos superiores ou para as esferas inferiores,
onde tecerás o próprio ninho”. (...)
“Observa, desse modo, a
natureza do teu campo íntimo e acautela-te para o futuro, porque, sem dúvida,
há inúmeras moradas no universo infinito, mas viverás escravo ou senhor no
templo do bem ou no cárcere do mal que tiveres escolhido para a tua residência
nos caminhos da vida eterna.” (EMMANUEL,
psicografado por Chico Xavier. Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho
segundo João, pg. 205 e pg. 206)
Se
você é morada íntima de evolução espiritual, “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas
vos serão acrescentadas. Não vos
preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará
consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal” (Mateus 6: 33-34).
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA.
EMMANUEL
(Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo João. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 131ª Edição. Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira, 2013.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira. Estudo
aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I.
Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo
do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira, 2015.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado
da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações
espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto
religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2013.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus.
28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

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