Parábola do servo trabalhador

 


Parábola do servo trabalhador

 

“Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou guardando gado, lhe dirá, quando ele voltar do campo: Vem já sentar-te à mesa? Antes lhe dirá: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; e depois comerás tu e beberás? Porventura agradecerá ao servo, por ter este feito o que lhe havia ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito tudo o que vos foi ordenado; dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.” (Lucas, 17: 7-10)

Rodolfo Calligaris

“Como se depreende facilmente do texto supra, ao tempo em que Jesus esteve entre nós, os operários rurais, finda sua jornada de trabalho no campo, tinham ainda outros deveres, quais sejam: preparar e servir a ceia a seus patrões, e só então é que iam cuidar de si mesmos.

Era, sem dúvida, um regime duro, inaceitável nos dias de hoje, mas, como fazia parte do contrato de emprego, nenhum trabalhador achava, nem poderia achar, que fazia mais do que a obrigação.

Nem seus amos, tampouco, ficavam a dever-lhes qualquer reconhecimento, por isso. O Mestre, com sua capacidade extraordinária de improvisar as mais sábias lições, aproveitando-se da paisagem que o circundava ou dos costumes da época, ao ouvir a rogativa dos apóstolos: ‘Senhor, aumenta-nos a fé’, depois de exaltar os poderes miraculosos desta preciosa virtude, fá-los compreender que, para ser fortalecida, a fé tem que se apoiar em atos de benemerência, em devotamento ao próximo, em renúncia pessoal a benefício dos semelhantes.

Assim como a percepção de maiores rendimentos pecuniários, seja na lavoura, no comércio ou na indústria, depende da produtividade de cada um, também a fé, que é o salário da alma, só pode ser aumentada naqueles que demonstrem espírito de serviço, e se empenhem, com afinco, no campo do altruísmo e da fraternidade cristã.

Sim, porque, como disse Tiago: ‘a fé sem obras é morta’, e o que está morto não pode crescer, não é passível de desenvolvimento. Só os organismos vivos é que possuem essa faculdade. Aqueles que dizem: ‘a fé é uma só’, e supõem seja ela infundida de um jato, como um favor do céu a uns poucos privilegiados, evidentemente laboram em erro.

Ensinando, aos que partilhavam do colégio apostólico, qual o ‘processo’ para aumentá-la, Jesus desmente tal concepção, eis que não há nada estático no universo, e a fé, como tudo o mais, também é dinâmica, evolve e se aperfeiçoa.

Mister, entretanto, que, na prática do bem, guardemos sempre uma atitude de sincera modéstia, alijemos de nosso coração qualquer laivo de orgulho, qualquer pretensão de superioridade. Após cada gesto de amor que tenhamos ensejo de praticar, demos graças a Deus pela oportunidade de servir que nos ofereceu, dizendo-lhe humildemente: ‘Somos uns servos inúteis; fizemos apenas o que devíamos fazer’.”

Antônio Luiz Sayão

“Significa isto que nada somos, em comparação com o Senhor, que tem o direito de tudo exigir de nós, a quem tudo foi dado. Não nos devemos, portanto, vangloriar do que fizermos, tendo em vista agradá-lo. Temos que esforçar-nos por cumprir o nosso dever, sem que a isso nos mova unicamente a esperança de uma recompensa. A preocupação do cumprimento do dever, o reconhecimento para com Deus e a esperança de satisfazê-lo, tais os sentimentos exclusivos que nos devem animar.”

Cairbar Schutel

“Era costume, antigamente, utilizar-se dos servos que trabalhavam na lavoura ou guardavam gado: ao chegarem, à tarde, preparavam a ceia para o seu amo, serviam a mesa, e, depois, ceavam. Aquele que assim não fizesse deixaria de cumprir o seu dever, e o que assim procedia, não fazia mais que cumprir sua obrigação, porque para tal mister fora contratado e recebia seu salário. Não se jactava de assim proceder, visto o prévio ajuste que houvera entre ele e o patrão.

Jesus, que se aproveitava sempre do que ocorria cotidianamente, para dar boas lições àqueles que deviam ser, mais tarde, os seus apóstolos, ao pedirem estes ao Senhor que lhes aumentasse a fé, depois de exaltar as virtudes da fé e o poder que a mesma mantém, lhes propôs a chamada Parábola do servo trabalhador.

Quis o Mestre fazer ver a seus discípulos que a fé é o salário dos bons obreiros, e para que esse salário seja aumentado, é preciso que os obreiros cumpram primeiramente seus deveres, mas sem jactância, com humildade, como quem se considera pago com as graças recebidas para desempenhar a sua tarefa.

A lavoura é o símbolo da Religião, que deve ser cultivada por todos; o gado constitui ou representa ‘esses todos’, ou seja, os que se querem instruir na Religião, os guardadores de gado; o dono da lavoura ou do gado é Jesus que nos veio trazer esse alimento de Vida Eterna. A fé, como já dissemos, não é uma coisa abstrata, como não é abstrata a semente de mostarda.

Assim como esta é alguma coisa substancial, também a fé contém tão poderosos elementos que os que a possuem chegam a operar maravilhas, como ‘arrancar sicômoros e arrojá-las ao mar’!

A semente de mostarda, quando chocha, é estéril, não dá espigas, não serve para condimento, não se presta como medicamento, enfim não tem valor algum. A fé que se acha nestas condições também não tem valor algum. E o que diremos da fé que nem mesmo aparenta a semente chocha da mostarda? Acresce outra circunstância que observamos na parábola: os apóstolos não acreditavam nessa fé que se recebe de um jacto, como a prescrevem as Igrejas; achavam que ela é suscetível de aumento, tanto que pediram a Jesus: ‘Senhor, aumenta-nos a fé’.

E o Senhor não os dissuadiu dessa crença, antes alimentou-lhes a esperança, estimulando-os ao trabalho e à perseverança, ao cumprimento do dever, que é o meio pelo qual alcançariam tal desiderato.

O Espiritismo, que é o Consolado r prometido por Jesus para relembrar aos homens tudo o que Ele disse, explica, em espírito e verdade, a sua palavra e traz, a todos, o complemento dos Ensinos Cristãos, que não podiam ser dados naquela época devido ao atraso intelectual de então. O Espiritismo vem cumprir a sua missão, oferecendo aos homens a explicação sucinta da Religião em suas modalidades científica e filosófica.”

 Autor: Juan Carlos Orozco

Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA.

CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas evangélicas à luz do espiritismo. 11ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

EMMANUEL (Espírito); Saulo Cesar Ribeiro da Silva (Coordenação). O Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Mateus.  1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Parábola dos dois filhos

Parábola da figueira estéril

Parábola do bom samaritano