Parábola do bom samaritano
Parábola
do bom samaritano
Vamos falar sobre a Parábola do bom
samaritano que exemplifica como se deve praticar a caridade para com o próximo,
sendo a única condição para a salvação.
Do Evangelho de Lucas:
“Um homem, que descia de Jerusalém para
Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se
foram, deixando-o semimorto. Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo
pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. Um levita, que também veio àquele
lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. Mas um samaritano que
viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado
de compaixão. Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as
pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele.
No dia seguinte, tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: trata
muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando
regressar. Qual desses três te parece
ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? O doutor respondeu:
aquele que usou de misericórdia para com ele. Então, vai, diz Jesus, e faze o
mesmo.” (Lucas, 10: 25-37)
Essa Parábola
traz inúmeros ensinamentos pela riqueza do seu enredo, que inspira diferentes
reflexões para a nossa evolução moral e espiritual. Ser sintético nessas
reflexões não é tarefa fácil.
A escolha dos
personagens não é por acaso, simbolizando três categorias de pessoas, sendo que
cada uma delas tem um sentido educativo para o desfecho.
Na seleção do
sacerdote e do levita, pelos conhecimentos religiosos que tinham, o Mestre
procurou demonstrar que não basta ter o conhecimento da lei de Deus, mas é
necessário cumpri-la e praticá-la no cotidiano.
Os samaritanos
eram desprezados pelos judeus e vistos como não puros. Talvez pelo fato de
serem tão desprezados pelos irmãos de raça, tivessem desenvolvido uma
vigilância maior relativamente ao comportamento e conduta de vida. Assim, o
samaritano torna-se a personagem principal, que movido pela compaixão,
misericórdia e caridade agiu como socorrista e missionário, não se contaminando
pela indiferença diante dos fatos.
O “um homem” caído
semimorto no caminho representa qualquer pessoa que necessita da nossa ajuda,
compaixão e caridade, simbolizando o próximo.
Para a
salvação, Jesus oferece a verdade da Palavra, a espada de dois gumes que
procede da boca e corta todo o mal, ceifando-o na hora da colheita, separando o
joio do trigo, rumo a um mundo regenerado e mais fraterno. A Palavra é a
semente e o fermento.
Mas não basta
compreender a Palavra e o significado de “amor ao próximo”, é preciso praticar
este amor com caridade no contexto da fraternidade universal, que desperta,
liberta, salva, renova, limpa o coração e ilumina a alma, afastando a cegueira
para as coisas de Deus, rumo à evolução espiritual e moral.
Ter puro o
coração é aquele que o limpou de todos os sentimentos contrários aos
ensinamentos de Jesus, afastando o egoísmo e o orgulho, semeando a simplicidade
e a humildade. Cada um deve empregar os seus esforços para combater o próprio
egoísmo e orgulho.
Da Parábola,
destaca-se a violência a que o “homem” foi submetido, caracterizado por um
mundo de expiações e provas, onde o mal predomina.
A descida de
Jerusalém, cidade sagrada e alta, para Jericó, cidade considerada maldita pelos
judeus e de nível mais baixo, simboliza a queda de padrão vibratório daquele
“homem”, do mais elevado em princípios superiores para o de vibrações
inferiores, em decorrência da invigilância moral.
“Descer de Jerusalém para Jericó é,
simbolicamente, escolher um nível mais baixo de consciência, a que chamamos egoíco,
em vez de um nível mais elevado, chamado Essencial.” (Alírio de Cerqueira Filho. Parábolas
terapêuticas, Volume 2, p. 21)
Nesse
processo de descida vibracional, podemos manter sintonia com entidades
perturbadoras, representadas pelos ladrões ou salteadores, que, tomando de
assalto a nossa casa íntima, rouba-nos a paz, fere profundamente e nos deixa
quase mortos à margem da vida.
A descida de
padrão vibratório de forma invigilante sempre ocasiona prejuízos. Contudo, descermos
para auxiliar os que se encontram em planos vibracionais inferiores é medida de
auxílio ao próximo, desde que seja num plano harmônico de entendimento.
Apesar de ser
detentor de vários recursos, o coração do sacerdote mantinha-se fechado à prática
da solidariedade ensinada por todas as interpretações religiosas.
O “viu”
indica a observação superficial, desinteressada, de quem nada sente, porque não
há sentimentos envolvidos. O “passou adiante” reflete a ociosidade mental,
enfatizando a postura de quem está acostumado a cultivar o interesse pessoal e
a indiferença para com as necessidades dos que sofrem. Cabe sublinhar que o
sacerdote também descia pelo mesmo caminho, de Jerusalém para Jericó, ou seja,
praticando ações de sentimentos inferiores.
Do mesmo modo
que o sacerdote, o levita passou ao largo daquele homem caído e ensanguentado no
caminho. É o amor dos egoístas, o amor dos que não compreenderam ainda o verdadeiro
amor.
Assim, o
sacerdote e o levita, que deveriam estar subindo de Jericó a Jerusalém, demonstraram
os seus comportamentos pela indiferença, pensando somente em seus interesses, e
movidos pelo egoísmo e pela soberba.
Jesus mostra
que a verdadeira caridade só é praticada quando nos compadecemos dos que
sofrem.
Todos os
benefícios que o samaritano produziu ao ferido foram gestos de bondade,
desencadeados pela compaixão. O samaritano agiu com critério e bom senso quando
atendeu o homem ferido, caído à beira da estrada. Vemos que a bondade do
atendimento não dispensou o conhecimento ou maneira correta de agir.
Importante
ressaltar que, na Parábola, o samaritano não descia e tampouco subia aquele
caminho, pois ele simplesmente viajava, mostrando, simbolicamente, que se
encontrava em outro nível de consciência, mais elevado, diferentes dos outros
três personagens: homem, sacerdote e levita.
O samaritano prestou
os cuidados emergenciais ao doente, limpando e fazendo a assepsia das feridas
pela utilização dos recursos disponíveis (vinho e azeite); depois, improvisou
um transporte (o cavalo), já que o doente estava incapacitado de andar; em
seguida, levou-o para uma estalagem onde recebeu alimento e o conforto de um
leito, afastando-o das intempéries; cuidou do ferido, auxiliando-o na
recuperação da saúde; e por último, garantiu a continuidade do atendimento,
fazendo um adiantamento monetário ao hospedeiro e assumindo uma dívida, se mais
recursos financeiros fossem despendidos.
Há uma nítida
preocupação do bom samaritano de que o doente se recupere integralmente,
cuidando dele diretamente ou, à distância, por intermédio do hospedeiro. Esse é
um exemplo de como se pode descer aos planos vibratórios onde a dor reside, sem
que ocorra prejuízos de qualquer natureza.
Nesse
aspecto, Alírio de Cerqueira Filho, no livro “Parábolas Terapêuticas: uma
abordagem psicológica transpessoal-consciencial das Parábolas de Jesus”, no
Capítulo 1: Parábola do bom samaritano, expressa: “O samaritano retoma o seu
curso, depois de tomar providências para que o homem continue a receber
cuidados para reviver. Ele não parou tudo que estava fazendo para cuidar do
outro ... (...) Jesus coloca de forma inequívoca que ele retoma a sua viagem,
após prestar o auxílio conforme as suas possiblidades e sem desviar o outro da
realidade que lhe é própria.”
Além disso,
Daniel Salomão, em “Parábola do Bom Samaritano”, discorre sobre a preocupação
com o crescimento do outro: “Após as demonstrações de compaixão e coragem ao
atender e conduzir o ferido, a dupla chega à estalagem. O samaritano passa a
noite ao lado de seu companheiro, doando ainda mais de seu tempo e disposição.
No dia seguinte, já tendo pago as despesas do pernoite, deixa dois denários
para custear hospedagem e cuidados do dono da estalagem. O samaritano não
permaneceu ao lado do ferido... (...) Entretanto, quando percebe a melhora,
conclui que, a partir daquele momento, a cura das feridas viria pela
responsabilidade do próprio assistido, que não permaneceria desamparado, mas
observado com certa distância. (...) Carregar o outro desnecessariamente é
privá-lo da real oportunidade de evolução. (...) ... deve estar ciente de que a
principal necessidade do assistido é a de curar as feridas e voltar a viver.
Porém, perceber quando o outro já pode ‘andar sozinho’ não é tarefa fácil.
(...) ... devemos sempre tomar o cuidado de não nos tornarmos ‘bengalas’ para
alguém que já possa até mesmo ‘correr sozinho’. Não devemos perder de vista o
caráter libertador e engrandecedor da mensagem cristã”.
Descer, a
serviço do bem, é programa de aprendizado e trabalho. Os benfeitores
espirituais fazem isso frequentemente. Saem de suas esferas superiores e descem
à Jericó dos nossos corações, ainda presos aos interesses transitórios do
mundo.
Nem sempre é
possível ajudar na posição em que nos encontramos, daí ser necessário descer
aos locais de sofrimento maior, dos desequilíbrios mais intensos, a fim de
cooperar com eficiência.
O processo
evolutivo se dá pela subida, caracterizada pela apreensão de conhecimento e,
também pela descida aos núcleos de necessidade e dor, a fim de que sejam
operacionalizadas as propostas de amor que já visitam o nosso entendimento.
Compreendemos,
assim, que, se o papel do samaritano é digno de ser imitado; se o homem caído
aprendeu com sua própria queda; se o levita e o sacerdote ainda terão que
evoluir nas reencarnações sucessivas, o hospedeiro é alguém que presta ou
disponibiliza o seu serviço, ainda que remunerado. Mas nem por isso sem méritos
porque o plano de aprendizagem e melhoria espiritual se dá, também, na
intimidade de nossa atuação profissional.
Em todos os
tempos, há criaturas que ensinam a caridade; todavia, poucas pessoas
praticam-na verdadeiramente. É por isso que a caridade, antes de tudo, pede
compreensão.
Não basta
entregar os haveres ao primeiro mendigo que surja à porta, para significar a
posse da virtude sublime. É preciso entender-lhe a necessidade e ampará-lo com
amor.
A caridade é
muito maior que a esmola assistencial. Ser caridoso é ser profundamente humano
e aquele que nega entendimento ao próximo pode inverter consideráveis fortunas
no campo de assistência social, transformar-se em benfeitor dos famintos, mas
terá que iniciar, na primeira oportunidade, o aprendizado do amor cristão, para
ser efetivamente útil.
Nesse
contexto, Alírio, no livro “Parábolas Terapêuticas, destaca que, além da
caridade assistencial material, é preciso esclarecer o Espírito imortal sobre
as realidades da vida, mediante a prática das caridades moral e espiritual, a
fim de se iluminarem para elevar a própria consciência e acender a luz dentro
de si.
Alírio
ressalta também o trabalho de esclarecimento daqueles que estão “descendo” e
ainda não caíram em poder dos “salteadores”, para que possam mudar de atitude e
progredir, iniciando a tarefa de libertação do egoísmo e do orgulho, antes que
estes sentimentos gerem sofrimentos. E continua: “O esclarecimento das verdades espirituais é fundamental para que todos
tenham oportunidade de ascensão”.
Assim, a
Parábola do bom samaritano ensina a prática da caridade em todas as suas
dimensões mediante o trabalho edificante no bem, demonstrando que a sua prática
independe de etnia, religião, crença, idade ou de quaisquer outras questões
puramente convencionais. O que importa é a prática do verdadeiro amor que
liberta a alma e cria oportunidade de progresso de quem a recebe.
Bibliografia:
AUTORES
DIVERSOS. Parábolas de Jesus à Luz da
Doutrina Espírita. 2ª Edição. Juiz de Fora/MG: Fergus Editora, 2019.
BÍBLIA
SAGRADA.
CALLIGARIS,
Rodolfo. Parábolas Evangélicas à Luz
Espiritismo. 11ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
CERQUEIRA
FILHO, Alírio de. Parábolas Terapêuticas:
uma abordagem psicológica transpessoal-consciencial das Parábolas de Jesus.
Volume 2. 1ª Edição. Cuiabá/MT: Editora Espiritizar, 2012.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Da 3ª
Edição francesa. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira. Estudo
aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I.
Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo
do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira, 2016.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus.
28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

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