Parábola do grande banquete, dos convidados à ceia ou dos convidados que se escusam
Parábola
do grande banquete, dos convidados à ceia ou dos convidados que se escusam
“Ao
ouvir isso, um dos que estavam à mesa com Jesus, disse-lhe: Feliz será aquele
que comer no banquete do Reino de Deus. Jesus respondeu: Certo homem estava
preparando um grande banquete e convidou muitas pessoas. Na hora de começar,
enviou seu servo para dizer aos que haviam sido convidados: Venham, pois tudo
já está pronto. Mas eles começaram, um por um, a apresentar desculpas. O
primeiro disse: Acabei de comprar uma propriedade, e preciso ir vê-la. Por
favor, desculpe-me. Outro disse: Acabei de comprar cinco juntas de bois e estou
indo experimentá-las. Por favor, desculpe-me. Ainda outro disse: Acabo de me
casar, por isso não posso ir. O servo voltou e relatou isso ao seu senhor.
Então o dono da casa irou-se e ordenou ao seu servo: Vá rapidamente para as ruas
e becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos. Disse
o servo: O que o senhor ordenou foi feito, e ainda há lugar. Então o senhor
disse ao servo: Vá pelos caminhos e valados e obrigue-os a entrar, para que a
minha casa fique cheia. Eu lhes digo: nenhum daqueles que foram convidados
provará do meu banquete.”
(Lucas, 14: 15-24)
Essa
Parábola do Evangelho de Lucas (14: 15-24) traz semelhanças de ensinamentos e
aprendizados com a “Parábola do Festim das Bodas” do Evangelho de Mateus (22:
1-14), que por meio de alegorias transmitem lições que nos ajudam compreender a
se libertar das coisas terrenas para a conquista do Reino de Deus dentro de nós.
Allan
Kardec aborda a “Parábola do Festim das Bodas” em “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, no Capítulo XVIII, em “Muitos os chamados, poucos os escolhidos”,
da qual podemos trazer alguns aspectos que nos auxiliarão o entendimento da “Parábola
do grande banquete”.
O
“Reino de Deus” ou “Reino dos Céus” representa o estado de plenitude
espiritual, o ápice do processo evolutivo intelectual e moral. A conquista
desse Reino equipara-se a participar de um banquete celestial, ou seja, “Feliz
será aquele que comer no banquete do Reino de Deus”.
Assim,
por analogia, o Cristo conduz a reflexão dos ouvintes para a ideia de como se
atingir a perfeição espiritual, por meio de um grande banquete ou de união com
Jesus, guia e modelo da Humanidade terrestre. Isso porque, nesse banquete, os
discípulos do Mestre encontrarão farta provisão de bens para suprir todas as
suas necessidades de fome e sede espirituais. Por conseguinte, Jesus compara o Reino
de Deus, onde tudo é alegria e ventura, a um verdadeiro banquete.
Para
esse grande banquete, todos somos convidados para desfrutar da evolução
espiritual na busca da perfeição e gozar das bem-aventuranças, compartilhando
da alegria da união ao sentar-se à mesa para tomar parte dessa festa com o Pai.
Nesse
sentido, Frederico G. Kremer, em “Jesus de Nazaré: uma narrativa da vida e das
parábolas”, no Capítulo 28, “A Parábola dos convidados à ceia”, comenta: “O
primeiro ensinamento é o da confiança. ‘Vinde a mim que tudo está preparado’.
Todos são convidados a participar, sem exceção, até os deserdados do mundo.
(...) O Evangelho anunciado é a boa notícia, pois os portões do Reino de Deus
foram abertos para todos que neles queiram entrar”.
Embora
convidados para o grande banquete, estes recusam o chamamento expondo as suas
desculpas, dificuldades e resistências para ir a essa festa. Os convidados se escusam,
alegando terem de ir cuidar de sua propriedade, suas juntas de bois e
casamento, simbolizando as pessoas absorvidas pelas coisas terrenas, mantendo-se
indiferentes às coisas celestes.
Frederico
G. Kremer, no mesmo livro, explica: “... com o mergulho na carne, outros
interesses e preocupações surgem, desviando nossa atenção. (...) A parábola
enumera vários motivos comuns de interesses materiais. As desculpas e os
pretextos permanecem os mesmos através dos séculos: propriedades materiais,
prazeres e divertimentos.”
O
processo de evolução espiritual começa, efetivamente, a partir de certo nível
de entendimento e de experiências vivenciadas pelo Espírito. Somente a partir
desse patamar, pode o homem abrir-se para as verdades transcendentais.
Nos
dias atuais, vemos as mesmas desculpas que fazem não aceitar o convite de
melhorar-se. Preferem atender às sensações imediatistas e transitórias da vida
material, numa clara manifestação do egoísmo escravizante.
Indiferentes
aos benefícios espirituais recebidos na existência, não avaliam o preço que
terão de pagar por este descaso. Não se revelam preocupadas com a salvação da
própria alma. Estão sempre adiando, indefinitivamente, o momento da transformação
espiritual.
São
criaturas tão absorvidas pelo cotidiano que não sentem necessidade do
Evangelho, sem se darem conta do mal que infligem a si mesmas. O tesouro que
trazem no coração é o amor pelo dinheiro e pela aquisição de bens; pela realização
de negócios lucrativos; e pela vivência de prazeres.
O
Espírito Emmanuel, em “Desculpismo”, na psicografia de Francisco Cândido
Xavier, ensina: “Desculpismo sempre foi a porta de escape dos que abandonam
as próprias obrigações. (...) Companheiros que arruínam o corpo em hábitos
viciosos arquitetam largo sistema de escusas, tentando legitimar as atitudes
infelizes que adotam, comovendo a quem os ouve, entretanto, acabam suportando
em si mesmos as consequências das responsabilidades a que se afeiçoam”.
Cairbar
Schutel, em a “Parábola da grande ceia”, no livro “Parábolas e Ensinos de Jesus”,
ensina:
“O
apego ao mundo e às coisas do mundo priva o homem das bênçãos de Deus.
Certa
vez, encontrando Jesus um moço de qualidade e rico, que observava todos os
mandamentos, mas não observava o principal dos mandamentos que se constitui no
desapego às coisas do mundo, disse: ‘É mais fácil um camelo passar pelo fundo
duma agulha, do que um rico salvar-se’.
O
homem superior, o Espírito evoluído, jamais prefere os bens da Terra em
detrimento dos bens dos Céu, porque sabe que aqueles se extinguem e estes
permanecem para sempre.
Não
há campo, não há bois, não há casamento capazes de desviar o homem de bem dos
seus deveres espirituais.
Ele
sabe atender com solicitude a todos os apelos do Alto, embora se arruínem os
campos, fiquem os bois sem serem experimentados e se transfira o casamento.
O
contrário se dá com o homem do mundo: preso aos negócios, às diversões, à
ganância louca, esquecem-se de seus deveres para com Deus, de seus deveres para
com seu próximo, de seus deveres para consigo mesmo, isto é, dos deveres
espirituais que tem de realizar no mundo.
Nesta
parábola Jesus faz alusão às suas próprias prédicas, que se constituem no
banquete espiritual; a diversidade de ensinos sistematizando a bela e excelente
Doutrina Cristã, são os ‘pratos’ variados da grande mesa em que todos podem
fartar-se, para não mais sentir aquela fome de saber.
Os
convidados foram os grandes, os potentados, os afazendados, que se negaram a
ouvir a Palavra do Reino de Deus, que não quiseram comparecer a esse banquete
celestial.
São
estes os excluídos das bênçãos do Céu, porque as recusaram, preferindo os
deleites do mundo.
Os
pobres, coxos, aleijados e cegos são os que não têm campos, não têm bois para
experimentar, nem casamento para privá-lo do comparecimento à ceia. São os
deserdados das mundanas glórias, das mundanas pompas, dos bens mundanos e os
que consideram os chamados do Céu superiores aos chamados da Terra.
De
fato, a palavra de Jesus exclui todas as honras, etiquetas e preconceitos
terrenos! Para nos chegarmos a Ele precisamos nos comparar a uma criança que
não tem ideias preconcebidas, que não tem campos, bois, casamentos, porque a
palavra de Jesus é superior a tudo e requer de nós o máximo respeito, a máxima
consideração, o maior acatamento!
E
essa palavra não passou! A mesa continua cheia de manjares de várias
qualidades, capazes de satisfazer os mais exigentes paladares, assim como os
grandes do mundo, os proprietários de campos e de bois continuam recusando-se a
comparecer a tão atencioso convite.
A
parábola é a figura do que acontecia na época do nascimento do Cristianismo, e
é a figura do que acontece nos nossos tempos: os ‘graúdos’ deste mundo não
querem responder ao apelo que se lhes faz, por isso os pequenos e deserdados
enchem a mesa, embora, como disse o servo encarregado do convite: ‘ainda há
lugar para os que quiserem comparecer’.
O
Cristianismo, em seu complemento espírita, realiza novamente esse chamado, e estamos
certos de que todas as ovelhas que constituirão o único rebanho do Supremo
Pastor ouvirão os incessantes chamados que lhes estão sendo feitos, e
corresponderão, com solicitude e boa vontade, aos divinos convites que partem
de todos os recantos do mundo.”
Antonio
Luiz Sayão, em “Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita”, sobre a
Parábola das bodas e dos convidados que se escusam, esclarece:
“Idênticos
são o sentido e o fundamento das Parábolas das Bodas do Filho do Rei e da Ceia
do Pai de Família. Ambas exprimem o convite que o Senhor faz às suas criaturas,
pelos seus enviados, para que se regenerem e purifiquem, isto é, para que se
limpem das manchas do pecado, a fim de participarem do festim celeste, que
proporciona ao Espírito adiantar-se, moral e intelectualmente, tornar-se rico
de coração e de inteligência, pela humildade, pelo saber, pela caridade e pelo
amor; recobrar a liberdade de suas faculdades e a de caminhar pela senda do
progresso; recobrar a visão espiritual e ver cada vez mais a luz, avançar com
passo firme e em linha reta para a perfeição, que lhe faculta entrar no palácio
eterno, nas regiões da pureza, nas esferas celestes e divinas e aproximar-se do
foco da onipotência.
Todos
são convidados, porque todos, bons ou maus, sem exceção de nenhum, são filhos,
foram criados para o mesmo fim e têm que participar do banquete de núpcias. (...)
O
choro e o ranger de dentes simbolizam as torturas morais na erraticidade e os
sofrimentos da encarnação em mundos inferiores à Terra.
As
palavras: ‘Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos’ não se
referem unicamente ao que foi expulso por não estar dignamente vestido.
Referem-se também a. todos os que anteriormente cerraram os ouvidos e o coração
à voz que os chamava. Esses mesmos, porém, sob a ação das leis imutáveis da
expiação, do progresso, pelo renascimento, pelas reencarnações, chegarão à
condição de envergarem o traje de núpcias, para entrarem nos mundos felizes.
Vê-se assim que todos os chamados virão a ser escolhidos, porque dos filhos de
Deus nenhum ficará perdido para sempre. Ainda não soara a hora de serem
ensinadas abertamente estas coisas, que só a Revelação Espírita, então futura,
tornaria claramente compreensíveis. Muitos séculos eram precisos que se
escoassem, para chegar o momento dessa revelação, os dias de hoje, os tempos
preditos da regeneração, que o Espírito da Verdade agora prepara.”
Por fim, deixamos uma
mensagem do Espírito Emmanuel, em “Chamamento divino”, na psicografia de
Francisco Cândido Xavier: “Se a realidade espiritual te busca, ofertando-te
serviço no levantamento das boas obras, não te detenhas, apresentando
deformidades e frustrações. No clima da Boa-Nova, todos nós encontramos
recursos de cura e reabilitação, reerguimento e consolo. Para isso, basta
sejamos sinceros, diante da nossa própria necessidade de corrigenda, com o
espírito espontaneamente consagrado ao privilégio de trabalhar e servir.”
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA.
EMMANUEL,
(Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier; coordenação de Saulo
Cesar Ribeiro da Silva. O Evangelho por
Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Lucas. 1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2016.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2019.
KREMER,
Frederico Guilherme da Costa. Jesus de
Nazaré: uma narrativa da vida e das parábolas. 1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2016.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado
da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações
espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto
religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2016.
SAYÃO, Antônio
Luiz. Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus.
28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

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