Parábola do avarento
Parábola
do avarento
“Então
lhes contou esta parábola: A terra de certo homem rico produziu muito bem. Ele
pensou consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita’.
Então disse: ‘Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir
outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E
direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos
anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’. Contudo, Deus lhe disse: ‘Insensato!
Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você
preparou?’ Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para
com Deus”. (Lucas, 12: 16-21)
Essa Parábola
de Jesus é um alerta àqueles que tudo depositam na posse de bens materiais,
apoderando-se deles como se fossem perenes, deixando-se levar pela ambição,
pelo desejo insaciável de acumular bens de fortuna, sem edificar a futura
morada pelos verdadeiros valores da vida eterna. Quando menos esperar, em meio
aos ambiciosos planos, serão arrebatados para prestar contas da utilização dos
bens concedidos pelo Pai.
Devemos
acumular tesouros celestiais e aproveitarmos as oportunidades que Deus nos
oferece para fazer bom uso dos bens materiais concedidos temporariamente como
meios de impulsionar a nossa evolução intelectual, moral e espiritual.
O Espírito
Emmanuel, em “Vida e posse”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, esclarece:
“Há milhares de pessoas que efetuam a romagem carnal, amontoando posses
exteriores, à gana de ilusória evidência. Senhoreiam terras que não cultivam.
Acumulam ouro sem proveito. Guardam larga cópia de vestimenta sem qualquer
utilidade. Retém grandes arcas de pão que os vermes devoram. Disputam
remunerações e vantagens de que não necessitam. (...) Não olvides, assim, a tua
condição de usufrutuário do mundo e aprende a conservar no próprio íntimo os
valores da grande Vida. Vale-te dos bens passageiros para estender o bem
eterno. Aproveita os obstáculos para incorporar a riqueza da experiência. Não
retenhas recursos externos de que não careças. (...) Lembra-te de que amanhã
restituirás à vida o que a vida te emprestou, em nome de Deus, e que os
tesouros de teu espírito serão apenas aqueles que houveres amealhado em ti
próprio, no campo da educação e das boas obras”. (Emmanuel. Reformador.
1957, p. 54)
Antonio Luiz
Sayão, em “Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita”, ensina:
“Avareza é
a paixão que se apodera do infeliz cuja única preocupação consiste em acumular
riquezas. São ainda inúmeros os que só cuidam das coisas da Terra e para os
quais a crença em Deus, na imortalidade da alma, na vida futura não passa de
desvario de fanáticos e de quem não tem com que se ocupar. (...)
O certo,
porém, é que, as mais das vezes, quando menos espera, o homem se vê arrebatado
pela morte, deixando tudo quanto levou a acumular durante a vida, para ser
esbanjado por outros, que nada fizeram pela aquisição de tanta riqueza. Se as
criaturas humanas se compenetrassem bem desta ideia, ela bastaria para combater
a avareza e para lhes dar a ver quão melhor e necessário é que ponhamos, em
reunir um tesouro para a vida eterna, os cuidados e esforços que malbaratamos
em ajuntar riquezas para uma vida efêmera, qual a terrena que apenas alguns
anos dura.
Daí
decorre, lógica e naturalmente, que aqueles para quem os Evangelhos de nosso
Senhor Jesus Cristo são o código das verdades eternas, da moral divina, o que
acima de tudo devem procurar é tornar-se ricos em Deus, pela prática
ininterrupta do amor e da caridade, pelo esforço constante por se libertarem
das influências materiais, como: a sensualidade, o orgulho, o egoísmo, a
cupidez, a inveja, etc.
Jesus não
baixou ao mundo para reinar sobre as coisas perecíveis como os reis da Terra,
nem para dar aos homens leis materiais. Sua missão, ao contrário, consistia,
sobretudo, em desprender, da matéria, homens profundamente materializados, ou
materiais, em lhes destruir o ídolo de carne, a fim de dar-lhes ao Espírito a
visão e o gosto das coisas espirituais. Falava-lhes com dureza, porque duros
tinham eles os corações, tanto que, mesmo assim, pouco as suas palavras os
impressionavam.”
Cairbar
Schutel, em “Parábolas e Ensinos de Jesus”, assim comenta a Parábola:
“A
Parábola do Avarento é uma síntese maravilhosa do trágico fim de todos aqueles
que não veem a felicidade senão no dinheiro e se constituem em seus escravos
incondicionais. Para essa gente, havendo dinheiro, há tudo. Periclite a
família, cambaleie a sociedade, arraste-se o mendigo pelas vias públicas
envergonhado e descomposto, chore e soluce o aflito, grite de dores o enfermo
miserável ou o inválido sem pão e sem lar, nada comove esses corações de pedra,
nada lhes demove, nada consegue mudar-lhes ou desviar-lhes as vistas dos ‘seus
frutos’, dos seus celeiros, do seu ouro!
São homens
desumanos, sem alma; pelo menos ignoram a existência, em si mesmos, desse
princípio imortal que deve constituir, para todos, o principal objeto de
cuidados e de carinho.
A avareza
é a véspera da mendicidade, ou seja, o fator da miséria.
Quantos
miseráveis perambulam pelas praças, implorando o óbulo e que, mesmo nesta
existência, foram ricos, sustentaram grandezas, bastos celeiros transbordantes!
Quantos
párias se arrastam pelas ruas, a bater de porta em porta, implorando ‘uma
esmola pelo amor de Deus!’
Qual a
origem dessa situação penosa que atravessam, qual a causa desses sofrimentos? A
avareza! Ricos de dinheiro, eram pobres para com Deus, porque, embora não lhes
faltasse tempo, nunca se dedicaram a Deus, nunca procuraram a sua lei, nunca
pesquisaram o próprio íntimo em busca de algo que existe, que sente, que quer e
não quer, que ama e que odeia, que vê o passado, que ao menos, teme o futuro;
nunca buscaram saber se essa centelha de inteligência que lhes dá tanto amor ao
ouro, tanta ganância pelos lucros terrenos poderá, quiçá, sobreviver a esse
corpo que, de uma hora para outra, cairá exânime, para ser entregue ao banquete
dos vermes!
O que
valem riquezas efêmeras, sombras de felicidade que se esvaem, fumo de grandezas
que desaparecem à primeira visita de uma enfermidade mortal! O que valem
celeiros repletos em presença do ‘ladrão da morte’, que chega em momento
inesperado, e, até, quando nos julgamos em plena mocidade e com ótima saúde!
Míseros
avarentos dos bens que Deus vos confiou! Pensais, porventura, que não tereis de
prestar ao Senhor severas contas desse depósito? Pensa que eles hão de
permanecer conosco e servirão para multiplicar cada vez mais a vossa fortuna?
Em verdade vos afirmo que vosso ouro se converterá em brasas a causticar vossa
consciência! Em verdade vos digo que ele se transformará em peias e algemas,
resultantes da ação nefasta que exercestes em detrimento dos que tinham fome,
dos que tinham sede, dos enfermos desprezados, dos pobres trabalhadores de quem
explorastes o trabalho!
Ricos!
Movimentai esse talento que o Senhor vos concedeu! Granjeai amigos com esse
tesouro da iniquidade, para que eles vos auxiliem a entrar nos tabernáculos
eternos! Fazei o bem; socorrei o pobre; amparai o órfão; auxiliai a viúva
necessitada; curai o enfermo, como se ele fosse vosso irmão ou vosso filho;
pagai com generosidade o trabalhador que está ao vosso serviço! Fazei mais:
comprai livros e aproveitai os momentos de ócio para vos instruir, porque um
rico ignorante é tanto como um asno de sela dourada! Ilustrai o vosso Espírito;
fazei para vós, tesouros e celeiros nos Céus, onde os vermes não chegam, os
ladrões não alcançam, a morte não entra!
Lembrai-vos
da Parábola do Avarento, cuja alma, na mesma noite em que fazia castelos no ar,
foi chamada pelo Senhor!”
Rodolfo
Calligaris, em “Parábolas evangélicas à luz do espiritismo”, enfatiza:
“É
determinação divina que o homem deva conquistar o pão com o suor do próprio
rosto. Isso equivale a dizer que, para atender às necessidades da vida física,
ele é obrigado a trabalhar, pois a Natureza não lhe oferece, de mão beijada,
quanto baste para saciar-lhe a fome e a sede, tampouco os recursos com que
proteger-se contra as intempéries.
Por essa
luta pela existência, que é uma bênção (e não maldição, como alguns
erroneamente supõem), o homem vai se desenvolvendo em todos os sentidos: ganha
ciência, aptidão e sensibilidade, resultando daí sua evolução e o progresso do
meio em que exerce suas atividades.
Infelizmente,
porém, muitos se preocupam em demasia com esse problema, em detrimento das
questões de ordem espiritual, deixando-se levar pela ambição, pelo desejo
insaciável de acumular bens de fortuna, o que não raro se transforma em
verdadeira obsessão.
A avareza,
a sórdida e feroz avareza, passa a comandar-lhes as ações, sufocando todo e
qualquer sentimento nobre e altruísta que se contraponha à ideia fixa de
aumentar, aumentar continuamente, esses tesouros...
Esquecem-se
de que, quando menos o esperarem, serão arrebatados pela morte, tendo que
deixar aqui toda a fortuna que labutaram por acumular durante a vida, para que
outros a desfrutem ou esbanjem a seu bel-prazer.
Se se
compenetrassem dessa verdade, certamente não poriam tanto empenho em ajuntar
riquezas para uma vida efêmera, cuja duração não vai além de uns poucos anos.
Buscariam, antes, tornar-se ricos em Deus, pela prática constante da caridade,
do amor ao próximo, e pelo esforço diuturno no sentido de libertar-se daquilo
que mais os amesquinha e mais fortemente os agrilhoa à prisão terrestre: a
cupidez, a usura, o apego às coisas materiais.
‘Ajuntai
para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde
os ladrões não penetram nem roubam’, dissera o Mestre de outra feita.
Esse
tesouro são as virtudes cristãs, são as boas qualidades do coração, que devemos
cultivar, se quisermos de fato assegurar-nos a vida eterna nos páramos
celestiais.
As obras
de benemerência e os esforços que se façam para formar um caráter reto e puro
constituem a grande colheita da vida.
Todo ato
nosso em benefício de outrem, assim como todo cuidado em vencer nossas
imperfeições, suscita um impulso para cima, equivalente a um depósito de
tesouro no Céu.
Busquemos,
pois, no Evangelho de nosso Senhor Jesus-Cristo, a inspiração sobre como gerir
os ‘talentos’ que nos tenham sido concedidos temporariamente, lembrando-nos
sempre do avarento da parábola, cuja alma, na mesma noite em que fazia planos
para o ‘futuro’, foi chamada pelo Senhor...”
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA.
CALLIGARIS,
Rodolfo. Parábolas evangélicas à luz do
espiritismo. 11ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
EMMANUEL (Espírito); Saulo Cesar Ribeiro da
Silva (Coordenação). O Evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho
segundo Mateus. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
SAYÃO,
Antônio Luiz. Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus.
28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

Comentários
Postar um comentário